viernes, 25 de noviembre de 2022

 


Cotidiano n°2

Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão



Vinicius de Moraes


Vida diaria n° 2

Hay días que no sé lo que está pasando
Abro mi Neruda y apague el sol
Mezclo poesía con cachaça
Y termino discutiendo fútbol

Pero no hay nada, no
Tengo mi guitarra

Me despierto por la mañana, pan sin mantequilla
Y mucha, mucha sangre en el periódico
Entonces todos los niños vienen
Y vengo a encontrar a Herodes natural

Pero no hay nada, no
Tengo mi guitarra

Entonces haré la loteca con la señora
Tal vez llegue nuestro día
Y me río porque los ricos se ríen por nada
Ni cuesta nada imaginar

Pero no hay nada, no
Tengo mi guitarra

Los sábados en casa me emborracho
Y soñar soluciones fenomenales
Pero cuando llega el sueño y la noche muere
El día cuenta historias siempre lo mismo

Pero no hay nada, no
Tengo mi guitarra

A veces quiero creer, pero no puedo
Todo es una estupidez total
Entonces le pregunto a Dios, escucha, amigo
Si fue para deshacerlo, ¿por qué lo hiciste?

Pero no hay nada, no
Tengo mi guitarra

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